sexta-feira, 18 de junho de 2010


Era o diário, ele estava ali na minha frente. Peguei e sentei novamente na cadeira, abri a capa e tinha um bilhete com a letra do meu pai. ‘Filha, se você estava curiosa em ler esse diário era só ter me falado que eu o dava pra você. Não era necessário mexer nas minhas coisas. Te amo, beijo.’ Naquele momento eu fiquei com vergonha de mim mesma, mas eu sei que se eu pedisse ele não me daria, ou daria sei lá. Eu não tava entendendo mais nada. A empolgação em ler aquele diário me deixou super animada. Corri pra cama e deitei de barriga para baixo, colocando o diário em baixo de mim, entre os meus cotovelos. Era fascinante o jeito que minha mãe escrevia, eu me sentia dentro da história, era como se eu estivesse lá. Esse diário era pra contar a nova fase dela, porque ele começa no dia do casamento. O tempo foi passando eu fui lendo cada vez mais, era claro que minha mãe era muito feliz no casamento. Isso tava evidente no que ela escrevia. Parei de ler por um instante ‘isso só me leva a pensar que ela não fugiu por não ser feliz’ pensei. Por um lado era bom. Voltei a ler.
Meu celular tava vibrando, deitei na cama pra pegá-lo na cabeceira e atendi. Era a Brenda me convidando pra dar uma volta, claro que eu não fui. Dispensei ela e voltei a ler. Virei a folha e ela se soltou, caiu no chão. Logo eu percebi que estava faltando folhas, mas mesmo assim eu continuei lendo. Terminei de ler e já era bem tarde, de madrugada. ‘Ta muito feliz isso, não tem como uma pessoa ser feliz o tempo todo. ’ Isso realmente era estranho, talvez as folhas que faltassem eram as principais. Então, ‘alguém arrancou pra que ninguém ficasse sabendo de alguma coisa’. Um barulho novamente na rua, os cachorros latindo. Corri pra janela e vi um vulto, mas não deu pra identificar nada nem ninguém. Não dava pra ficar toda noite ouvindo e vendo coisas e não saber o que era, decidi ir lá outra vez, mesmo que fosse perigoso. Desci a escada, abri a porta dos fundos e fui.
A noite estava fria, gelada. O vento parecia cortar o meu rosto. Tentando me esquentar continuei caminhando. Já dava pra ver as árvores. O vento começava a cantar, trazia folhas das árvores e ficava cada vez mais forte. Lá ao fundo eu vi alguma coisa se mexendo, não dava de saber se era um bicho, uma pessoa ou apenas um arbusto. Comecei então a correr, tentando ao máximo não fazer nenhum tipo de barulho. Cheguei mais perto. Cada vez mais perto. Conclui, era um homem. Mas a minha curiosidade era maior, eu já queria saber logo quem era e apoiei o meu pé mais adiante pra dar uma segurança e inclinei o corpo pra frente, tentando ver quem era. Me desequilibrei e cai. Ele se virou, furioso.

quarta-feira, 16 de junho de 2010


Não podia ser verdade, eu estava duvidando dos meus próprios olhos. O diário havia sumido. Isso só poderia significar uma coisa ‘o meu pai desconfiou’. Isso era uma certeza, não tem outra explicação. ‘Se ele escondeu outra vez, é porque lá tem alguma coisa importante. Ou que eu não possa ler’. Arrumei a poltrona no lugar, sai do quarto do meu pai e fui indo na direção do meu. Abri a porta e deitei na cama. Os pensamentos vinham na minha mente tão rápido que até me deu uma tontura. Minha mãe, o diário, o meu pai escondendo ele outra vez e além claro do Enzo. Quando pensei nele, lembrei que tinha um trabalho. Peguei a mochila que estava do lado da cama, no chão e abri o caderno na matéria de história. Li as cinco questões, li o texto do livro e deu pra responder quatro perguntas. A segunda eu fiquei com dúvida e resolvi mandar um email para o professor. A resposta não demorou muito ‘Olá Lisy, pra ajudar você nessa questão eu sugiro que você leia a apostila dois, na página 34. E sugiro também que para futuras dúvidas que você me adicione no MSN, é esse email mesmo. Se cuida. ’ É claro que eu não pensei duas vezes e adicionei-o.
Conversamos quase que uma tarde inteira e sobre vários assuntos. Foi bem divertido e bastante interessante. Ele saiu era 18h40min foi se arrumar pra dar aula à noite. Eu nem poderia imaginar que um dia eu iria ter o MSN dele, conversar quase uma tarde toda e ainda por cima ouvir elogios. Era claro, pelo menos na minha cabeça, que ele demonstrava algum interesse em mim. Logo que a Brenda entrou, eu fui contar a novidade e ela ficou pegando no meu pé. ‘Lisy?’ Era o meu pai na porta, ‘entra pai’. ‘Não, só pra avisar que a janta ta pronta’. A fome era grande e logo desci.
Quando eu voltei para o quarto olhei pra tela do computador e vi que o Enzo tinha voltado e falado alguma coisa. ‘To saindo agora de casa, ate amanha e durma bem. ‘Ah que lindo!’ pensei. Sentei numa cadeira perto da janela e apoiei os pés lá. Fiquei pensando em várias cosias, pensando nele, e onde poderia ta o diário. Olhei pro lado, numa escrivaninha antiga. A gaveta aberta. ‘Odeio isso’ me levantei e fui fechar, mas parecia que tinha algo ali dentro que impedia, abri. ‘Ah meu Deus’.

terça-feira, 8 de junho de 2010


Olhei para trás assustada. Mas era ele, o professor. Levantei e fui andando na direção dele ‘não sabia que você vinha aqui’ falei pra ele. ‘É a primeira vez, curiosidade’ respondeu ele caminhando pelo mato, como se estivesse tentando descobrir alguma coisa no meu das flores. Conversamos um pouco sobre várias coisas. Era interessante conversar sobre outras coisas com ele, além de história. E foi incrível como o tempo passou rápido, já era hora de almoçar. Mas a minha vontade era a de passar a tarde toda ali com ele. ‘Bom professor... ‘ele me interrompeu e disse ‘Enzo, meu nome é Enzo’ eu dei um sorriso tímido. Voltei olhar pra ele ‘ok, então Enzo, eu tenho que ir’. Nos despedimos, mas ele resolveu me acompanhar até a minha casa, foi muito bom assim conversamos mais um pouco.
O final de semana passou sem maiores emoções. Já era segunda e eu estava atrasada para a aula, como sempre. Fui pra aula e voltei pra casa. Na aula o tempo não passava porque eu estava ansiosa para ler o diário da minha mãe. O plano era perfeito, enquanto o meu pai trabalhava, eu poderia ler tudo bem tranqüila. Cheguei em casa. Almoçamos, o pai foi trabalhar e o meu irmão foi treinar. Subi correndo a escada, cada vez com o pensamento mais forte e criando cenas que poderiam estar escritas ali. A emoção era tanta, eu poderia encontrar muita coisa, um amor antigo, um segredo, uma pista do seu sumiço, etc.
Abri a porta do quarto, fechei. A poltrona estava ali, o coração estava quase saindo pela boca naquele momento. Antes de ir até a poltrona, me veio outro pensamento. ‘Será bom pra eu ler essas coisas?’ Fui até a janela do quarto, encostei a cabeça na janela. Estava com gotas da chuva. Bateu uma vontade de chorar. Olhei pelo vidro e posou uma borboleta. Não sei como, mas ela me deu forças para fazer o que eu tanto queria. Talvez fosse um sinal de que tudo iria dar certo. Então eu decidi. Empurrei a poltrona para o lado. Eu a vi, a caixa preta. Linda. Levei minhas mãos até ela, elas tremiam um pouco. Coloquei-a no meu colo, respirei fundo e tirei a tampa. ‘Aaah’ gritei.

sexta-feira, 4 de junho de 2010


Nesse instante eu ouvi alguém subindo a escada. Guardei o diário bem rápido e sai do quarto indo em direção a escada esbarrei com o pai. Decidi arrumar a cozinha. Mas a idéia de saber que minha mãe tinha um diário, era incrível. Poder saber o que ela pensava o que ela queria e até mesmo matar as saudades dela. Meus pensamentos voavam enquanto eu lavava a louça. E era claro que eu iria ler esse diário inteirinho. Terminei de limpar as coisas e fui para o meu quarto. A roupa de ontem do bar tava jogada na poltrona. Preguiça. Peguei o celular e resolvi ligar para a Brenda, mas eu vi alguém novamente andando em direção a floresta que fica atrás da minha casa. Eu me aproximei da janela, coloquei a mão em cima dos olhos pra ver melhor. Não dava pra identificar a pessoa, só dava pra saber que era um homem. ‘Isso é tão estranho’ era a única coisa que eu pensava. Não porque tinha alguém andando ali, até porque qual um pode andar ali, mas a imagem da noite da chuva não saía da minha cabeça. E a certeza de ser a mesma pessoa me deixava ainda mais intrigada. ‘Eu vou lá ver quem é’ afinal de contas, era de manhã e todos estavam em casa, qualquer coisa era só gritar. Fui.
Andando pelo quintal de casa a sensação de medo crescia. Eu não sabia o que poderia acontecer e nem quem encontrar. Dava de ver a pessoa de costas andando rápido, já passando pelas primeiras árvores. Comecei a apertar o passo, quase correndo. Já não dava pra o ver mais. A quantidade de árvores naquele lugar é incrível. Decidi ir ao lago ali perto, estava tão próxima dele mesmo. As memórias da infância voltaram, às brincadeiras com o meu irmão; o meu pai nos jogando na água e a minha mãe gritando que isso era perigoso. ‘Bons tempos, esses. ’ O lago estava ali na minha frente. Lindo. Como é bom olhar pra ele e ver que tudo continua igual. Até a ponte velha e o pequeno porto. Poucas coisas hoje continuam do mesmo jeito.
Sentei numa pedra e coloquei os pés na água. Uma sensação refrescante, fiquei tão relaxada. O sol iluminava os pensamentos. Em pouco tempo ali, eu percebi que aquele lugar me fez falta. Era como se eu tivesse carregado as energias. Estava pronta para enfrentar qualquer coisa, essa era a sensação que eu tinha. Balançando os pés na água, sentindo a brisa no rosto e com a cabeça olhando para as nuvens ‘que sensação boa’ , eu conseguia respirar um ar puro. ‘Concordo com você’ era um voz masculina.

terça-feira, 1 de junho de 2010


Abri o bilhete, tremendo. ‘Só pra reforçar que o teu sorriso é lindo’. As meninas voaram em cima de mim para tentar ler o que estava escrito. Tentei guardar, mas não deu muito certo. Elas leram e durante o resto da noite pegaram no meu pé. Toda hora eu o procurava no bar, e sempre nos olhávamos. Um olhar de canto, tímido e em algumas vezes, sorrisos. A mãe da Brenda havia chegado e estava na hora irmos. Levantamos. ‘Até que foi legal’ falei indo em direção a porta. Todas concordaram. Alguém me segurou pelo braço. Virei para trás, assustada. Era ele, sorrindo com sempre ‘não ia se despedir de mim?’. Olhei bem nos olhos dele e sorri de um jeito bem meigo, ‘tenho que ir’ dei um beijo no rosto dele e me virei. Parei. Voltei a olhar pra ele que ainda estava ali parado, ‘o teu sorriso é lindo também’. E fui.
Cheguei em casa, tomei um banho e me deitei. Rolei na cama, eu tinha sono, mas não conseguia dormir. Quando dei por mim começou a chover, e isso queria dizer que logo eu dormiria. Amo o barulho da chuva. A chuva foi aumentando cada vez mais. Até que o cachorro começou a latir sem parar. Coloquei o travesseiro por cima da cabeça, mas não resolveu nada. Decidi então, olhar pela janela do meu quarto. E vi alguém. Parecia ser um homem, com um guarda-chuva. Na mesma hora que o vi, me deu um frio na espinha. Medo. Muito medo. Voltei para cama com uma sensação estranha. Dormi.
Acordei com uma luz do sol na minha cara, me dei conta que não havia fechado a cortina. Fui ao banheiro. Desci a escada e tomei café. Da cozinha eu já via o meu irmão jogando play na sala. E o meu pai no sofá lendo o jornal. Me veio na cabeça a caixinha que o pai tava vendo ontem. Ele me deixou curiosa. ‘Eu vou ver o que tem lá’ pensei. Percebi que o pai estava no começo da leitura e fui até o quarto dele. Abri a porta, empurrei a poltrona para o lado. Ali estava ela, a caixinha preta. ‘Ah caixinha, é agora’ tirei a tampa. ‘Um diário? O meu pai escreve um diário?’ Um caderno azul. Trancado. ‘Droga, cadê a chave?’. Procurei dentro da caixa, e achei. Abri o diário. ‘Não é do meu pai. É da minha mãe’.