sábado, 17 de julho de 2010


Veio mais perto de mim ‘o que tais fazendo aqui, guria?’ perguntou ele. Eu levantei a cabeça na direção dele tentando ver quem era, mas estava muito escuro. Os meus olhos se fechavam na tentativa de identificação. Só deu pra responder ‘eu moro numa casa aqui perto, e sempre vejo alguém entrando aqui. Resolvi ver quem era. ’ O moço se abaixou, ‘ora ora, menina curiosa’ sorriu e voltou a se levantar estendendo a mão pra me ajudar. Começamos a caminhar e a conversar. Fiquei sabendo que ele morava ali, numa casa que ficava bem no meio desse mato. Ele só saia à noite pra ir à cidade vizinha comprar algumas coisas, mas ele não me disse por que fazia isso. Era um senhor simpático, deveria ter seus motivos. Ele também não quis me dizer o seu nome. Eu nem tinha percebido, mas a nossa caminhada tinha nos levado pra frente da minha casa. Eu ri quando me dei conta disso. Nos despedimos e fui pra casa.
Entrei em casa com medo que alguém pudesse acordar, mas não. Ainda bem. Fui bem devagar, subindo cada degrau como se estivesse com pé machucado. Abri a porta do meu quarto, deitei na cama e dormi.
Os dias foram se passando sem nada de novo, o Enzo estava de atestado e não foi dar aula durante uma semana. Isso era motivo suficiente pra eu não ir pra aula, mas eu fui. O meu pai estava estranho. O meu irmão, bom, eu tinha um, mas nunca o via.
O sinal bateu hora da aula de história. Entrei na sala e me sentei. Todos naquela bagunça de sempre até que o professor entra. ‘Bom dia, classe’ disse ele, o melhor e mais bonito professor daquela escola. A aula passou tão rápida, e antes de dispensar a turma o professor disse ‘gente, eu preciso conversar uma coisa com vocês’ e todos voltaram a sentar em seus lugares pra ouvir, tudo bem, alguns ficaram em pé mesmo. Eu pude notar que ele estava triste naquele momento, era claro. Ele estava mexendo com os dedos, a cabeça baixa. Olhou para a turma com uma cara de triste ‘galera, vocês são incríveis. Essa foi a primeira escola que eu dei aula e vocês sempre serão lembrados por isso. Mas eu recebi um convite pra dar aula em outra escola, em outra cidade. Eu vou. Vou me mudar hoje. ’
Eu fiquei sentada. Sem reação. Aquilo não podia ser verdade. Não! Todos foram abraçar o professor. E eu ali, sentada, com os olhos fechados, segurando o choro. De repente alguém se aproxima, eu podia sentir.

sexta-feira, 18 de junho de 2010


Era o diário, ele estava ali na minha frente. Peguei e sentei novamente na cadeira, abri a capa e tinha um bilhete com a letra do meu pai. ‘Filha, se você estava curiosa em ler esse diário era só ter me falado que eu o dava pra você. Não era necessário mexer nas minhas coisas. Te amo, beijo.’ Naquele momento eu fiquei com vergonha de mim mesma, mas eu sei que se eu pedisse ele não me daria, ou daria sei lá. Eu não tava entendendo mais nada. A empolgação em ler aquele diário me deixou super animada. Corri pra cama e deitei de barriga para baixo, colocando o diário em baixo de mim, entre os meus cotovelos. Era fascinante o jeito que minha mãe escrevia, eu me sentia dentro da história, era como se eu estivesse lá. Esse diário era pra contar a nova fase dela, porque ele começa no dia do casamento. O tempo foi passando eu fui lendo cada vez mais, era claro que minha mãe era muito feliz no casamento. Isso tava evidente no que ela escrevia. Parei de ler por um instante ‘isso só me leva a pensar que ela não fugiu por não ser feliz’ pensei. Por um lado era bom. Voltei a ler.
Meu celular tava vibrando, deitei na cama pra pegá-lo na cabeceira e atendi. Era a Brenda me convidando pra dar uma volta, claro que eu não fui. Dispensei ela e voltei a ler. Virei a folha e ela se soltou, caiu no chão. Logo eu percebi que estava faltando folhas, mas mesmo assim eu continuei lendo. Terminei de ler e já era bem tarde, de madrugada. ‘Ta muito feliz isso, não tem como uma pessoa ser feliz o tempo todo. ’ Isso realmente era estranho, talvez as folhas que faltassem eram as principais. Então, ‘alguém arrancou pra que ninguém ficasse sabendo de alguma coisa’. Um barulho novamente na rua, os cachorros latindo. Corri pra janela e vi um vulto, mas não deu pra identificar nada nem ninguém. Não dava pra ficar toda noite ouvindo e vendo coisas e não saber o que era, decidi ir lá outra vez, mesmo que fosse perigoso. Desci a escada, abri a porta dos fundos e fui.
A noite estava fria, gelada. O vento parecia cortar o meu rosto. Tentando me esquentar continuei caminhando. Já dava pra ver as árvores. O vento começava a cantar, trazia folhas das árvores e ficava cada vez mais forte. Lá ao fundo eu vi alguma coisa se mexendo, não dava de saber se era um bicho, uma pessoa ou apenas um arbusto. Comecei então a correr, tentando ao máximo não fazer nenhum tipo de barulho. Cheguei mais perto. Cada vez mais perto. Conclui, era um homem. Mas a minha curiosidade era maior, eu já queria saber logo quem era e apoiei o meu pé mais adiante pra dar uma segurança e inclinei o corpo pra frente, tentando ver quem era. Me desequilibrei e cai. Ele se virou, furioso.

quarta-feira, 16 de junho de 2010


Não podia ser verdade, eu estava duvidando dos meus próprios olhos. O diário havia sumido. Isso só poderia significar uma coisa ‘o meu pai desconfiou’. Isso era uma certeza, não tem outra explicação. ‘Se ele escondeu outra vez, é porque lá tem alguma coisa importante. Ou que eu não possa ler’. Arrumei a poltrona no lugar, sai do quarto do meu pai e fui indo na direção do meu. Abri a porta e deitei na cama. Os pensamentos vinham na minha mente tão rápido que até me deu uma tontura. Minha mãe, o diário, o meu pai escondendo ele outra vez e além claro do Enzo. Quando pensei nele, lembrei que tinha um trabalho. Peguei a mochila que estava do lado da cama, no chão e abri o caderno na matéria de história. Li as cinco questões, li o texto do livro e deu pra responder quatro perguntas. A segunda eu fiquei com dúvida e resolvi mandar um email para o professor. A resposta não demorou muito ‘Olá Lisy, pra ajudar você nessa questão eu sugiro que você leia a apostila dois, na página 34. E sugiro também que para futuras dúvidas que você me adicione no MSN, é esse email mesmo. Se cuida. ’ É claro que eu não pensei duas vezes e adicionei-o.
Conversamos quase que uma tarde inteira e sobre vários assuntos. Foi bem divertido e bastante interessante. Ele saiu era 18h40min foi se arrumar pra dar aula à noite. Eu nem poderia imaginar que um dia eu iria ter o MSN dele, conversar quase uma tarde toda e ainda por cima ouvir elogios. Era claro, pelo menos na minha cabeça, que ele demonstrava algum interesse em mim. Logo que a Brenda entrou, eu fui contar a novidade e ela ficou pegando no meu pé. ‘Lisy?’ Era o meu pai na porta, ‘entra pai’. ‘Não, só pra avisar que a janta ta pronta’. A fome era grande e logo desci.
Quando eu voltei para o quarto olhei pra tela do computador e vi que o Enzo tinha voltado e falado alguma coisa. ‘To saindo agora de casa, ate amanha e durma bem. ‘Ah que lindo!’ pensei. Sentei numa cadeira perto da janela e apoiei os pés lá. Fiquei pensando em várias cosias, pensando nele, e onde poderia ta o diário. Olhei pro lado, numa escrivaninha antiga. A gaveta aberta. ‘Odeio isso’ me levantei e fui fechar, mas parecia que tinha algo ali dentro que impedia, abri. ‘Ah meu Deus’.

terça-feira, 8 de junho de 2010


Olhei para trás assustada. Mas era ele, o professor. Levantei e fui andando na direção dele ‘não sabia que você vinha aqui’ falei pra ele. ‘É a primeira vez, curiosidade’ respondeu ele caminhando pelo mato, como se estivesse tentando descobrir alguma coisa no meu das flores. Conversamos um pouco sobre várias coisas. Era interessante conversar sobre outras coisas com ele, além de história. E foi incrível como o tempo passou rápido, já era hora de almoçar. Mas a minha vontade era a de passar a tarde toda ali com ele. ‘Bom professor... ‘ele me interrompeu e disse ‘Enzo, meu nome é Enzo’ eu dei um sorriso tímido. Voltei olhar pra ele ‘ok, então Enzo, eu tenho que ir’. Nos despedimos, mas ele resolveu me acompanhar até a minha casa, foi muito bom assim conversamos mais um pouco.
O final de semana passou sem maiores emoções. Já era segunda e eu estava atrasada para a aula, como sempre. Fui pra aula e voltei pra casa. Na aula o tempo não passava porque eu estava ansiosa para ler o diário da minha mãe. O plano era perfeito, enquanto o meu pai trabalhava, eu poderia ler tudo bem tranqüila. Cheguei em casa. Almoçamos, o pai foi trabalhar e o meu irmão foi treinar. Subi correndo a escada, cada vez com o pensamento mais forte e criando cenas que poderiam estar escritas ali. A emoção era tanta, eu poderia encontrar muita coisa, um amor antigo, um segredo, uma pista do seu sumiço, etc.
Abri a porta do quarto, fechei. A poltrona estava ali, o coração estava quase saindo pela boca naquele momento. Antes de ir até a poltrona, me veio outro pensamento. ‘Será bom pra eu ler essas coisas?’ Fui até a janela do quarto, encostei a cabeça na janela. Estava com gotas da chuva. Bateu uma vontade de chorar. Olhei pelo vidro e posou uma borboleta. Não sei como, mas ela me deu forças para fazer o que eu tanto queria. Talvez fosse um sinal de que tudo iria dar certo. Então eu decidi. Empurrei a poltrona para o lado. Eu a vi, a caixa preta. Linda. Levei minhas mãos até ela, elas tremiam um pouco. Coloquei-a no meu colo, respirei fundo e tirei a tampa. ‘Aaah’ gritei.

sexta-feira, 4 de junho de 2010


Nesse instante eu ouvi alguém subindo a escada. Guardei o diário bem rápido e sai do quarto indo em direção a escada esbarrei com o pai. Decidi arrumar a cozinha. Mas a idéia de saber que minha mãe tinha um diário, era incrível. Poder saber o que ela pensava o que ela queria e até mesmo matar as saudades dela. Meus pensamentos voavam enquanto eu lavava a louça. E era claro que eu iria ler esse diário inteirinho. Terminei de limpar as coisas e fui para o meu quarto. A roupa de ontem do bar tava jogada na poltrona. Preguiça. Peguei o celular e resolvi ligar para a Brenda, mas eu vi alguém novamente andando em direção a floresta que fica atrás da minha casa. Eu me aproximei da janela, coloquei a mão em cima dos olhos pra ver melhor. Não dava pra identificar a pessoa, só dava pra saber que era um homem. ‘Isso é tão estranho’ era a única coisa que eu pensava. Não porque tinha alguém andando ali, até porque qual um pode andar ali, mas a imagem da noite da chuva não saía da minha cabeça. E a certeza de ser a mesma pessoa me deixava ainda mais intrigada. ‘Eu vou lá ver quem é’ afinal de contas, era de manhã e todos estavam em casa, qualquer coisa era só gritar. Fui.
Andando pelo quintal de casa a sensação de medo crescia. Eu não sabia o que poderia acontecer e nem quem encontrar. Dava de ver a pessoa de costas andando rápido, já passando pelas primeiras árvores. Comecei a apertar o passo, quase correndo. Já não dava pra o ver mais. A quantidade de árvores naquele lugar é incrível. Decidi ir ao lago ali perto, estava tão próxima dele mesmo. As memórias da infância voltaram, às brincadeiras com o meu irmão; o meu pai nos jogando na água e a minha mãe gritando que isso era perigoso. ‘Bons tempos, esses. ’ O lago estava ali na minha frente. Lindo. Como é bom olhar pra ele e ver que tudo continua igual. Até a ponte velha e o pequeno porto. Poucas coisas hoje continuam do mesmo jeito.
Sentei numa pedra e coloquei os pés na água. Uma sensação refrescante, fiquei tão relaxada. O sol iluminava os pensamentos. Em pouco tempo ali, eu percebi que aquele lugar me fez falta. Era como se eu tivesse carregado as energias. Estava pronta para enfrentar qualquer coisa, essa era a sensação que eu tinha. Balançando os pés na água, sentindo a brisa no rosto e com a cabeça olhando para as nuvens ‘que sensação boa’ , eu conseguia respirar um ar puro. ‘Concordo com você’ era um voz masculina.

terça-feira, 1 de junho de 2010


Abri o bilhete, tremendo. ‘Só pra reforçar que o teu sorriso é lindo’. As meninas voaram em cima de mim para tentar ler o que estava escrito. Tentei guardar, mas não deu muito certo. Elas leram e durante o resto da noite pegaram no meu pé. Toda hora eu o procurava no bar, e sempre nos olhávamos. Um olhar de canto, tímido e em algumas vezes, sorrisos. A mãe da Brenda havia chegado e estava na hora irmos. Levantamos. ‘Até que foi legal’ falei indo em direção a porta. Todas concordaram. Alguém me segurou pelo braço. Virei para trás, assustada. Era ele, sorrindo com sempre ‘não ia se despedir de mim?’. Olhei bem nos olhos dele e sorri de um jeito bem meigo, ‘tenho que ir’ dei um beijo no rosto dele e me virei. Parei. Voltei a olhar pra ele que ainda estava ali parado, ‘o teu sorriso é lindo também’. E fui.
Cheguei em casa, tomei um banho e me deitei. Rolei na cama, eu tinha sono, mas não conseguia dormir. Quando dei por mim começou a chover, e isso queria dizer que logo eu dormiria. Amo o barulho da chuva. A chuva foi aumentando cada vez mais. Até que o cachorro começou a latir sem parar. Coloquei o travesseiro por cima da cabeça, mas não resolveu nada. Decidi então, olhar pela janela do meu quarto. E vi alguém. Parecia ser um homem, com um guarda-chuva. Na mesma hora que o vi, me deu um frio na espinha. Medo. Muito medo. Voltei para cama com uma sensação estranha. Dormi.
Acordei com uma luz do sol na minha cara, me dei conta que não havia fechado a cortina. Fui ao banheiro. Desci a escada e tomei café. Da cozinha eu já via o meu irmão jogando play na sala. E o meu pai no sofá lendo o jornal. Me veio na cabeça a caixinha que o pai tava vendo ontem. Ele me deixou curiosa. ‘Eu vou ver o que tem lá’ pensei. Percebi que o pai estava no começo da leitura e fui até o quarto dele. Abri a porta, empurrei a poltrona para o lado. Ali estava ela, a caixinha preta. ‘Ah caixinha, é agora’ tirei a tampa. ‘Um diário? O meu pai escreve um diário?’ Um caderno azul. Trancado. ‘Droga, cadê a chave?’. Procurei dentro da caixa, e achei. Abri o diário. ‘Não é do meu pai. É da minha mãe’.

sexta-feira, 28 de maio de 2010


Na mesma hora olhei pra ele, não acreditando ta pergunta que eu ouvi. Seria tão perfeito pegar uma carona com ele, daria pra conversar bastante e conhecer ele um pouco melhor. Dei um sorriso, um sorriso de pura felicidade e com uma voz suave eu disse ‘Se não for incomodar, eu aceito sim. Meu pai não me atende. ’ Quando terminei de falar alguém do outro lado da rua buzinou. ‘Droga’ eu pensei. ‘Tu conheces?’ perguntou ele. Acho que ele reparou só pela cara que eu conhecia e que eu não gostei muito da surpresa. ‘Aham, é o meu pai. ’ Me levantei ‘obrigada por oferecer a carona’ e fui indo na direção do carro. ‘Lisy?’ ele falou alto. Eu me virei ‘o que foi?’. Teu sorriso é lindo, menina. Se cuida’ ele disse isso, se levantou e foi na direção oposta. Fiquei olhando ele ir, até o pai buzinar de novo.
Meu pai viu a ligação perdida e foi me buscar. Cheguei em casa, almocei e fui para o meu quarto. Fiz as tarefas, eram poucas. Sentei na cama, olhei para um porta-retrato com uma foto da minha mãe. Joguei-me na cama e chorei de saudade dela. O tempo passou tão rápido, nem percebi. ‘Lizy’ eu ouvi chamarem o meu nome. ‘Lizy, Lizy’ meu nome era mencionado a todo o momento. Levantei assustada da cama e dei de cara com uma pessoa na janela pelo lado de fora. Acordei suada. Com medo. Um sonho, um péssimo sonho. Por mais que eu saiba que tudo não era real a minha boca ainda estava seca e o meu coração continuava disparado.
Meu celular tocou, eu atendi. Eram as meninas me convidando para dar uma volta e aproveitar a sexta-feira. Gostei da idéia, eu precisava mesmo sair um pouco e me distrair. Afinal a minha cabeça estava voltando nas lembranças que me fazem chorar sempre. Tomei um banho rápido. Coloquei uma saia preta, uma sapatilha preta também e uma blusa roxa. Só passei um lápis, dividi o cabelo e a parte de cima eu prendi. Sai do quarto e procurei o pai, fui ao quarto dele. A porta estava encostada, e deu pra o ver guardando uma caixa preta de baixo da poltrona. ‘Pai?’ chamei por ele. Ele se virou um pouco assustado oi amor, o que foi?’ . Respondi que iria sair com as meninas e voltaria um pouco tarde. Fui de ônibus mesmo, mas pra voltar eu esperava uma carona. Cheguei lá e elas já estavam. O bar era um que nós íamos antes com mais freqüência, mas ele continuava o mesmo. Bem agradável, várias mesas, um som legal e mesas de sinuca. Conversamos um pouco lá fora e entramos. Tínhamos que comemorar os últimos dias de aula. Sentamos numa mesa mais para o fundo. Veio a garçonete, perguntou o que queríamos e me entregou um bilhete ‘mandaram entregar pra você, menina com pressa’. Eu dei um sorriso tímido, já sabendo de quem era o bilhete. Abri.

terça-feira, 25 de maio de 2010


Virei o rosto para as meninas novamente, elas ainda estavam rindo. ‘Que vergonha, amiga’ disse a Brenda. Começamos a conversar, o sinal bateu, hora de entrar. Indo em direção ao portão eu notei que ele ainda estava lá, e eu tinha certeza ele estava me olhando. Seus olhos encaravam os meus, que fracos se desviavam. Ele deu um sorriso de canto. Passou na minha frente e sumiu no meio da multidão. Não adiantava procurá-lo, era muita gente ali. Mas, eu nem precisava me preocupar, afinal a primeira aula era com ele.
Eu sentava na carteira que se encostava à parede e bem na fileira da mesa dos professores, era a terceira da fila. Alguns de pé e outros sentados, esperando o professor. Ele entrou. ‘Bom dia, turma’ disse ele com um sorriso e colocando o seu material na mesa. Passei quase a aula inteira relembrando da cena e só de lembrar eu já ficava vermelha. A aula havia terminado e eu ainda estava ali sentada viajando nos pensamentos. Fui cutucada, ‘Ta dormindo, Lisy?’. ‘Não, Luci. To viajando aqui’ me levantei e saímos da sala. ‘Cadê a Brenda?’ eu perguntei. Luci olhou séria pra mim e disse que a Brenda já tinha ido, o pai dela ligou e avisou que passaria mais cedo. ‘Ah, que ótimo fiquei sem carona’ pensei. Eu me despedi da Luci e fui pra frente do colégio. Sentei no mesmo banco de antes, abri a mochila e comecei a procurar o meu celular. Achei. Liguei para o meu pai. Ele não me atendeu. Quase todos já haviam saído, eu estava praticamente ali, sozinha.
Ouvi passos, cada vez ficando mais perto de mim. Olhei pra ver quem era. ‘Oi menina’ disse o professor com um sorriso encantador. ‘Oi’ eu respondi olhando pra frente. Ele se sentou ao meu lado e perguntou‘posso?’ . ‘Já sentou mesmo, ele riu. Um silêncio. Nesse momento ficou claro que nós não tínhamos tanto papo assim. Ele olhou pra mim ‘ta esperando alguém?’ . Eu não sei por que, mas eu sei que nesse momento eu fiquei vermelha também. Comecei a mexer com as mãos na mochila de tão nervosa, eu respondi ‘na verdade eu ia de carona com uma amiga, mas ela já foi. To tentando ligar para o meu pai agora’ , olhei pra ele e dei um sorriso, um pequeno sorriso. Nossos olhares se fixaram por alguns segundos. E eu não consegui segurar por muito tempo, logo virei pra frente. Ele riu baixinho ‘Quer carona?’.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

A grande Procura


Eu olhava a chuva cair pela janela do meu quarto. Minha cama dava de frente pra ela e mesmo com esse barulhinho gostoso o sono não vinha. Já era tarde, bem tarde. Virei para o outro lado, tentando encontrar uma posição mais confortável. Não achei. ‘Nossa, eu tenho que dormir, amanhã tem aula cedo’ pensei comigo. Fechei os olhos, tentei pensar em alguma coisa linda e me veio na cabeça o meu professor de história, Enzo. Isso funcionou porque logo o celular despertou. Estiquei a mão na cabeceira da cama, com a cara ainda coberta e desliguei o despertador. Voltei a dormir.
Alguém puxou o meu cobertor, alguém abriu a cortina, esse mesmo alguém disse ‘Anda Lisy, levanta’, abri o olho e vi meu pai saindo pela porta. Lá estava eu, destapada, descabelada, de barriga pra baixo na cama e atrasada pra aula. Rolei pro lado direito e peguei o celular na mão, vi a hora. ‘Droga’. Levantei correndo e fui ao banheiro, lavei meu rosto e escovei os dentes, ainda dormindo. Voltei para o quarto, abri o guarda-roupa. ‘E agora? Que roupa eu vou?’. Fiquei com uma mão apoiada na porta e a outra na cintura. Meu pai passou pela porta, voltou de costas e parou ‘Tens tempo pra isso mesmo. Eu to saindo daqui 5 minutos’. Olhei pra trás pela janela, não estava chovendo, mas o tempo tava feio. Peguei uma calça jeans e uma blusa preta. Vesti. Sentei na cama e coloquei uma bota preta por cima da calça. Procurei a mochila no armário, coloquei em cima da cama. Ouvi o pai ligando o carro, peguei a mochila, o casaco preto que tava na cadeira e desci correndo as escadas.
Sai do carro e logo vi as meninas sentadas no banco. ‘Tchau pai, eu volto de carona. ’, fechei a porta e fui correndo devagar ao encontro delas. Meu pai buzinou, virei pra trás para olhar e quando virei de volta eu esbarrei em alguém. Livros caídos no chão, papéis voando. ‘Ai meu Deus, desculpa’ e me abaixei pra ajudar a pegar as coisas. ‘Pra que tanta pressa, menina?’ , a voz vinha de trás e eu sabia quem era. Olhei pra ele, ‘Oi professor’. Eu tenho certeza que eu fiquei vermelha. Absoluta. Voltei a olhar pra frente juntando os livros do menino, e o vi passar por mim. ‘Desculpa’ repeti novamente enquanto entregava os livros. Fui à direção delas. ‘Não corre’ alguma delas gritou enquanto eu olhava para o portão da escola, ele estava lá, parado e parecia me olhar.

A grande Procura

Essa é uma história criada por mim e as imagens foram pegas do Google. Tive essa idéia há poucos dias e achei interessante. Toda terça e sexta eu irei postar uma continuação da história. Comentários elogiando ou criticando, serão todos aceitos.


-Uma garota chamada Lisy, de 17 anos que mora com o pai e o irmão, a mãe sumiu um dia do nada. Lisy senti a falta da mãe e ela jura que vai encontrá-la. A garota se apaixona por Enzo, seu professor de história, 27 anos. Ao mesmo tempo em que ela vive essa paixão, Lisy tenta descobrir o que aconteceu com a sua mãe. A busca por pistas; desconfianças de pessoas próximas; alegrias no amor; decepção em tudo; é isso que Lisy pode esperar esses dias.